Durante centenas de anos as
parteiras atuavam como sempre fizeram desde que a humanidade existe e sequer
entendiam o quanto era importante. Diferente da maioria das profissões ser
parteira é muito mais do que estar presente na hora do parto e nascimento. É ajudar
a mulher e aparar o bebê. Não escolhemos esta profissão assim como as demais
profissões onde as pessoas escolhem, prestam vestibular e se aprovados cursam
alguns anos recebem um título e acreditam estar prontas para exercer.
Torna-se profissional antes de ter a experiência, apenas com a teoria e no máximo algum tempo de estágio. No ofício de parteira sentimos o chamado de alguma forma e geralmente nos aproximamos da prática seja com nosso próprio corpo ou com outras mulheres ou ajudando alguma parteira. Nascemos com o DOM, é missão de vida. Entendo que alguns outros ofícios também nascem com a pessoa. Dom é diferente de talento.
A cada parto aprendemos mais e mais por isso, quanto mais antiga mais experiente e mais sábia é a parteira. Diferente das profissões modernas que se dá todo mérito aos recém-formados, no nosso caso de parteira o tempo e a experiência qualificam a profissional, e assim quando já idosa com muitas décadas de experiências não precisa mais estar nos partos, é sim mestra para ensinar e contar as histórias de vida e morte, de dor e alegrias, de bebês que se fizeram gente grande, de reconhecimentos e injustiças. Se ela formou aprendizes herdeiras do seu saber estas seguidoras irão beber dessa fonte e com segurança e determinação dar continuidade a essa tradição milenar honrando sua mestra e as ancestrais ante passadas.
Nos últimos anos em vários países, e o Brasil se inclui fortemente, estamos numa fase de emersão conquistamos visibilidade. Historicamente é cíclico que a existência e prática das parteiras emergem nas diferentes sociedades, e galgam visibilidade e reconhecimento. Depois vem as tentativas de mudanças de descréditos por parte dos sistemas vigentes e de grupos sociais específicos, voltam as perseguições as iniquidades e as injustiças. Mais uma vez as parteiras voltam ao estado latente, porém sem nunca deixar de atuar, seguem na invisibilidade partejando silenciosamente e solitariamente como forma de cumprir a missão de sobreviver e continuar existindo.
Embora muitas pessoas em diferentes sociedades acreditem que as parteiras não existem mais ou estão em extinção como parte da natureza, o elo jamais foi rompido, sobrevivemos a caça às bruxas no obscuro período da inquisição, sobrevivemos a hegemonia hospitalocêntrica criando a cultura da cesariana desnecessária e aqui estamos queridas amigas e companheiras parteiras, existimos porque resistimos, somos nós mesmas parteiras que sabemos o que fazer e como atuar nas horas de escuridão e injustiças, sabemos também que nas fases de euforia e modismos precisamos cuidar do que nos é mais precioso: nosso Saber e prática repassado de geração em geração entre mulheres e homens de espírito feminino. Aqui estamos, em todos os lugares deste planeta presentes no momento sagrado em que um novo Ser brota da Pachamama saindo de dentro de uma mulher trazendo luz e esperança.
Axé, namastê, que a grande Mãe nos abençoe.
Suely Carvalho – 61 anos, 39 anos de ofício de parteira tradicional.
Torna-se profissional antes de ter a experiência, apenas com a teoria e no máximo algum tempo de estágio. No ofício de parteira sentimos o chamado de alguma forma e geralmente nos aproximamos da prática seja com nosso próprio corpo ou com outras mulheres ou ajudando alguma parteira. Nascemos com o DOM, é missão de vida. Entendo que alguns outros ofícios também nascem com a pessoa. Dom é diferente de talento.
A cada parto aprendemos mais e mais por isso, quanto mais antiga mais experiente e mais sábia é a parteira. Diferente das profissões modernas que se dá todo mérito aos recém-formados, no nosso caso de parteira o tempo e a experiência qualificam a profissional, e assim quando já idosa com muitas décadas de experiências não precisa mais estar nos partos, é sim mestra para ensinar e contar as histórias de vida e morte, de dor e alegrias, de bebês que se fizeram gente grande, de reconhecimentos e injustiças. Se ela formou aprendizes herdeiras do seu saber estas seguidoras irão beber dessa fonte e com segurança e determinação dar continuidade a essa tradição milenar honrando sua mestra e as ancestrais ante passadas.
Nos últimos anos em vários países, e o Brasil se inclui fortemente, estamos numa fase de emersão conquistamos visibilidade. Historicamente é cíclico que a existência e prática das parteiras emergem nas diferentes sociedades, e galgam visibilidade e reconhecimento. Depois vem as tentativas de mudanças de descréditos por parte dos sistemas vigentes e de grupos sociais específicos, voltam as perseguições as iniquidades e as injustiças. Mais uma vez as parteiras voltam ao estado latente, porém sem nunca deixar de atuar, seguem na invisibilidade partejando silenciosamente e solitariamente como forma de cumprir a missão de sobreviver e continuar existindo.
Embora muitas pessoas em diferentes sociedades acreditem que as parteiras não existem mais ou estão em extinção como parte da natureza, o elo jamais foi rompido, sobrevivemos a caça às bruxas no obscuro período da inquisição, sobrevivemos a hegemonia hospitalocêntrica criando a cultura da cesariana desnecessária e aqui estamos queridas amigas e companheiras parteiras, existimos porque resistimos, somos nós mesmas parteiras que sabemos o que fazer e como atuar nas horas de escuridão e injustiças, sabemos também que nas fases de euforia e modismos precisamos cuidar do que nos é mais precioso: nosso Saber e prática repassado de geração em geração entre mulheres e homens de espírito feminino. Aqui estamos, em todos os lugares deste planeta presentes no momento sagrado em que um novo Ser brota da Pachamama saindo de dentro de uma mulher trazendo luz e esperança.
Axé, namastê, que a grande Mãe nos abençoe.
Suely Carvalho – 61 anos, 39 anos de ofício de parteira tradicional.